Compreender o desenvolvimento humano pressupõe aceitar a inevitabilidade dos processos de continuidade e descontinuidade inerentes ao nosso ciclo vital e, por outro lado, torná-lo equilibrado, pressupõe a atribuição de um significado a esses mesmos processos.
No sentido do equilíbrio e da funcionalidade há, a nível individual, a tendência precipitada e condicionada em explicar e projetar o desenvolvimento pelo princípio da continuidade.
O indivíduo parece encontrar na continuidade um aparente conforto, definindo com clareza o ponto de partida e o ponto de chegada, o início e o fim.
Nesse trajeto definimos relações de causa/efeito que geram expectativas e que nos moldam a preconceitos e validações que nos retiram a possibilidade de sermos flexíveis e criativos.
Toda a experiência que não tenha o resultado esperado é facilmente considerada impossível e recusada como momento de aprendizagem
No decorrer do desenvolvimento humano, à medida que um conjunto de mudanças e descontinuidades ocorrem, o organismo reorganiza-se na procura de um novo padrão de estabilidade, qualitativamente superior ao anterior.
Atingido esse padrão, ocorre uma nova descontinuidade.
Ou seja, ao mesmo tempo que o indivíduo se desenvolve de forma gradual e contínua, mantendo padrões de interação e à medida que constrói outros (continuidade), ocorrem rupturas de padrões e saltos qualitativos que conduzem a novos estádios de desenvolvimento (descontinuidade).
As mudanças muito diversas com que nos confrontamos podem ser esperadas ou inesperadas: a adolescência, a inserção escolar na infância, integração no mercado de trabalho, nascimento de um filho, etc.
Em todos esses casos o papel do indivíduo deve ser ativo de forma a garantir a construção de um verdadeiro sentido de si ao longo do ciclo vital e assim derrubar ou amenizar o conceito e desconforto associado à mudança.
A mudança possibilita procurar e aceitar novas experiências, descobrirmo-nos e encontrar novas versões do mundo que se refletem num movimento de transformação pessoal, social e histórico.
A descontinuidade, portanto, deve ser vista como a possibilidade de apresentarmos uma atitude composicional e criativa perante rupturas e transições.
É um princípio necessário à manutenção e continuidade da vida, mais do que um percurso entre o nascimento e a morte, é a busca de significado e de sentido para a existência.
Tanto a continuidade como a descontinuidade intervêm no nosso desenvolvimento. Aceitando-as, ajudam- nos a desenhar trajetórias únicas, com sentido e criativas!