A obesidade infantil é um sem dúvida um enorme problema de saúde pública.
Em Portugal, e no resto do mundo industrializado, é cada vez maior o número de crianças com excesso de peso, ou mesmo já com obesidade.
Segundo diferentes especialistas esta geração terá uma esperança de vida menor que as dos seus pais – algo inédito!
São necessárias medidas urgentes, e a prevenção é sempre a melhor solução, e no caso da obesidade esta prevenção começa já dentro da barriga da mãe.
São cada vez mais os estudos que associam o efeito do ambiente intrauterino no desenvolvimento de diferentes patologias, e a tendência para a obesidade não é exceção.
O excessivo aumento de peso durante a gravidez, e a ingestão de alguns compostos podem ativar a leitura de alguns genes que favorecem a obesidade neste novo ser.
Algumas destas mudanças ocorridas na forma como os genes são lidos, pode mesmo facilitar o excesso de peso até 2 – 3 gerações seguintes (ou seja, não só naquela criança, como no futuro filho, ou neto deste bebé que está prestes a nascer).
Outros estudos dizem respeito à facilidade com que este recém nascido aceita novos alimentos.
Aparentemente, quanto mais diversificada for a alimentação da mamã durante a gravidez, mais fácil será a aceitação do bebé a alimentos diferentes, nomeadamente legumes e frutas.
São cada vez mais os estudos que relacionam a flora intestinal e a obesidade, e tudo começa quando nascemos.
Na passagem pelo canal de parto (parto normal), a criança capta diferentes bactérias benéficas que começam a povoar o intestino.
O aleitamento materno faz o resto, incentivando o crescimento destas espécies benéficas que vão impedir que algumas das bactérias intestinais associadas à obesidade se instalem no intestino.
No caso dos bebés que nascem por cesariana ou que não tenham hipóteses de aleitamento materno, faz todo o sentido a suplementação com probióticos (bactérias benéficas) para que possam também beneficiar do efeito benéfico destas!
Além disso, o aleitamento materno tem sido associado a um menor risco de obesidade no bebé.
Nascemos com uma maior apetência e aceitação por alimentos doces (pode ler mais sobre isso aqui), podendo por isso ser um pouco mais difícil a introdução de alimentos menos doces (como alguns legumes).
Além disso, por vezes necessitamos de tentar diversas vezes o mesmo alimento para passar a aceitá-lo.
No caso dos alimentos doces, a aceitação é quase imediata... e quanto mais o nosso gosto se habitua ao sabor doce, menos capacidade temos de aceitar os alimentos menos doces (novamente os legumes).
Quando falamos em alimentação para bebés, a grande preocupação dos pais é que as crianças aceitem a alimentação, e nada consegue melhor isso do que as papas.
Os pais tendem a dar ao seu filho a papa que ele come melhor, e a criança tende a aceitar as papas que são mais doces e por isso mesmo, a quase totalidade das papas disponíveis no mercado têm açúcar.
Algumas delas chegam mesmo a ter quase 15%(!!) de açúcar. Não é por isso de admirar que algumas crianças tenham mais dificuldade em aceitar os alimentos menos doces.
Não nos podemos esquecer das bolachas com açúcar que começam também a ser introduzidas por volta desta idade, dos purés de fruta com adição de açúcar, ou mesmo iogurtes para bebés também com açúcar. Leia os rótulos e evite todos os produtos que contenham açúcar.
Com a passagem do primeiro ano de vida, e com a maior liberalização relativamente aos alimentos a dar a uma criança começam a aparecer os chocolates (alguns deles "para crianças”), os iogurtes coloridos (com quantidade excessivas de açúcar e corantes, alguns deles já proibidos noutros países, uma maior variedade de bolachas doces, bolinhos, gelatinas, gomas, e tantos outros produtos "açucarados”.
À medida que as crianças crescem, as batatas fritas e tantos outros alimentos repletos de gordura, açúcar e aditivos alimentares começam a fazer parte dos hábitos alimentares destas crianças.
Nesta fase, o gosto destas crianças já está bastante deturpado, e a capacidade destas aceitarem alimentos como sopa, legumes, fruta ou mesmo peixe, começa a ser menor.
Frase como "o meu filho não aceita outra coisa”, "o meu filho não tem excesso de peso e pode comer sem engordar”, "coitada da criança, ela deve comer o que gosta de comer”, e outras frases de gênero perpetuam esta "má educação alimentar”.
O exemplo dado pelos adultos é também algo fundamental, pois numa casa onde não se come fruta ou legumes diariamente, e onde as bolachas, os refrigerantes e os doces fazem parte dos hábitos alimentares dos pais, dificilmente a criança vai comer de forma diferente.