O bebé humano é, de entre todos os mamíferos, o que nasce mais imaturo.
Durante os primeiros meses, necessita de apoio permanente para poder sobreviver, ao contrário dos outros mamíferos que, em poucas horas, ou poucos dias, após o nascimento já têm capacidade de andar e sobreviver.
O tamanho do crânio, que em relação ao resto do corpo se vai tornar, proporcionalmente, muito maior do que o dos outros mamíferos, será a causa para a necessidade de ter de sair do útero enquanto o diâmetro do crânio ainda o permite e ter de continuar, depois do nascimento, o seu desenvolvimento neurológico.
Por isso, os primeiros três meses de vida do bebé podem ser considerados o 4º trimestre da sua gestação.
Dentro do útero o bebé vivia muito bem aconchegadinho, quentinho, dobrado sobre si mesmo, com toda a sua pele permanentemente tocada e envolvida pelo contacto do líquido amniótico e das paredes do útero, que, de vez em quando, se contraiam umas quantas vezes seguidas e assim e lhe davam uma massagem forte e gostosa ao longo das costas até ao rabinho.
Aquela vida era cheia de sons e movimentos!
A mamã andava de um lado para o outro, subia e desciam escadas, sentava-se, levantava-se e dobrava-se e o bebé sempre a ser embalado para a frente e para trás, naquela cadência de passos, horas a fio, como se estivesse sobre as ondas do mar…
E o som, tantos sons! O coração da mãe sempre a deitava com força sangue para a artéria aorta que lhe passava ali mesmo ao lado da cabeça, pshs, pshs, pshs … Dos intestinos da mãe, de vez em quando, vinha um imenso turbilhão!
E ao longe vozes, às vezes cantares, às vezes música, sons amaciados pela travessia do corpo da mãe e do líquido em volta do bebé…
Calor, aconchego, massagem, movimento, muitos sons… era assim a vida antes do nascimento.
Deitado no seu bercinho, em silêncio e quietinho, envolto em roupas largas e com todo o espaço do mundo à sua volta quando estica os braços e as pernas, o bebé sente-se num mundo estranho diferente de tudo o que lhe era familiar e conhecido.
Tem saudades do movimento balanceado dos passos de sua mãe, tem saudades do aconchego do útero em carícias em toda a sua pele, tem saudades dos ininterruptos sons pshs, pshs, pshs… agora é o silêncio.. E ele chora, chora de medo, chora de solidão, agita-se de inquietação…
Alguns autores, entre os quais se destacam o médico obstetra francês Frederic Leboyer e o médico pediatra Harvey Karp, dizem-nos ouvir no choro e ver na inquietação dos bebés pequeninos um pedido de socorro para acabar com angústia da solidão e poder voltar a sentir a massagem do útero sobre toda a sua pele, os movimentos balanceados dos passos da mãe e o antigo mundo de sonoridades que preencha esse infinito de silêncio.
Nos anos 70 do séc XX, Frederick Leboyer percebe a necessidade urgente de promover um nascimento sem violência e, depois do nascimento, vê na massagem dos bebés, tradicional na Índia, que difunde com Shantala, um quase ritual de passagem, pacificador e securizante, do mundo intra-uterino para a vida fora do útero.
Em Shantala aprende-se como mãos sábias, serenas e seguras percorrem o corpo do bebé, num ritmo quase ondulante, e lhe transmitem segurança, estímulo, ternura e uma imensa serenidade.
Mais recentemente, Harvey Karp, médico pediatra, criou um sistema que designa como The Happiest Baby no qual conjuga cinco técnicas que visam recriar o ambiente intra-uterino e, desse modo, proporcionar ao bebé, quase instantaneamente, uma enorme tranquilidade:
No mundo animal, a observação atenta da relação entre qualquer fêmea e as suas crias, após o nascimento, mostra a existência de uma interação e ligação física permanente até à autonomia dos filhotes.
No mundo humano, onde se mantêm as tradições ancestrais, as mães nunca se afastam dos seus filhos, levam-nos sempre consigo, junto ao corpo, bem embrulhados contra o peito ou às costas.
Os seus bebés embalados pelos passos da sua mãe e envoltos pela sua voz, que tão bem conhecem "desde sempre”, estão em paz, não têm "cólicas” e não choram sem razão. Vivem serenamente o 4º trimestre da sua gravidez.