O frio do inverno é demasiado intenso para a maior parte dos frutos e flores das espécies fruteiras.
Mas há algumas que resistem e se adaptam à estação fria, embora com diferentes níveis de adaptação.
Destacamos neste artigo três espécies arbóreas com flores nesta época do ano, o medronheiro, a nespereira e a alfarrobeira.
O medronheiro (Arbutus unedo) é uma pequena árvore que se adapta a vários tipos de clima e de solos.
E por isso, o temos espontâneo desde a serra do Gerês no Minho em solos graníticos e ácidos, à serra do Caldeirão no Algarve, em solos de xisto também ácidos.
Mas descendo a serra até ao barrocal algarvio, já em solos alcalinos e com rocha calcária.
Também podemos encontrar medronheiros, embora não tantos como na serra.
Não por se darem menos bem mas porque as terras têm outras árvores de fruto como a alfarrobeira e a amendoeira.
Também o podemos ter no quintal e para isso podemos fazer sementeira em viveiro e depois transplantar (com o torrão e não de raiz nua).
Ou comprar a planta já envasada, pequena ainda sem produção, ou grande já a dar medronhos.
E é das poucas plantas que dá flor e fruto ao mesmo tempo, demorando este um ano a crescer.
Deste fruto tem-se produzido tradicionalmente valiosa aguardente e vários tipos de licor, como a Melosa da serra de Monchique, em que se junta mel à aguardente.
Mais recentemente têm sido identificadas boas qualidades nutricionais ao fruto fresco, como seja o elevado teor de antioxidantes, superior ao morango e à framboesa.
Bem como uma razoável quantidade de vitaminas e carotenóides.
Também já se verificou que o medronho contém baixa quantidade de álcool (etanol).
O que vem contrariar o senso comum de que estes frutos causam embriaguez.
A compota de medronho é outro produto de qualidade, bem como outras sobremesas doces que este fruto permite fazer.
Finalmente há ainda um outro produto resultante do medronheiro ainda que de forma indireta.
É o mel de medronho, produzido pelas abelhas na época de outono/inverno.
É um mel mais amargo e ácido do que a maioria dos restantes méis, e de cor escura.
Mas tem alto teor antioxidante, sendo por isso muito valorizado nos países do norte da Europa e na Sardenha.
Podemos considerar o medronheiro e o medronho, autênticos tesouros para algumas regiões do país.
Onde pode ser uma alternativa a outras espécies menos amigas do ambiente e menos sustentáveis como o eucalipto ou o pinheiro bravo.
Para o quintal biológico o medronheiro tem ainda uma outra função, que é a de ser uma infraestrutura ecológica.
Isto porque é abrigo e fonte de alimento para diversos insetos auxiliares, predadores e parasitóides de pragas da horta.
As suas flores fornecem pólen e néctar a crisopas e sirfídeos (predadores de pulgões ou afídeos).
E himenópteros parasitóides (de afídeos e de outras pragas).
E mais, o medronheiro é ele próprio atacado por um afídeo (Aphis arbuti).
Que não é muito prejudicial à planta e serve de alimentos para diversos insetos auxiliares (larvas de crisopas, de sirfídeos e de cecidomídeos, himenópteros parasitóides).
Com estas e outras espécies arbóreas e arbustivas podemos fazer uma sebe mista e rica em insetos e ácaros auxiliares.
Aumentando assim a limitação natural das pragas e reduzindo a necessidade de aplicar inseticidas, ainda que "biológicos”.
Para não alongar mais o texto juntamos duas imagens de flores de inverno.
A alfarrobeira (Ceratonia siliqua) e a nespereira (Eriobotrya japonica), plantas de que esperamos dar notícias quando da colheita.
A primeira, de origem mediterrânica e mais cultivada no Algarve.
Resiste menos ao frio mas pode adaptar-se a regiões mais a norte, desde que não muito longe do mar.
A nespereira, de origem mais longínqua, terá uma resistência ao frio, intermédia entre o medronheiro e a alfarrobeira.
E os seus frutos são os primeiros a serem colhidos na Primavera.