A cerejeira (Prunus avium), ao contrário da ginjeira (Prunus cerasus), é uma árvore muito dependente do clima para frutificar, precisando de muitas horas de frio (temperatura abaixo de 7ºC) no Inverno.
Já o meu professor de fruticultura dizia que cerejas em Portugal só a norte de Ferreira do Zêzere, que é como quem diz na metade Norte de Portugal, considerando que o centro (geodésico) do país de encontra ao lado desse concelho, já na outra margem do Zêzere, em Vila de Rei.
Mas há exceções como é o caso de Alenquer, onde há alguma cereja embora pouca em comparação com outras regiões, e só com variedades menos exigentes em frio, como a "Lisboeta”.
Outro problema para quem quer produzir cerejas é a polinização. A maior parte das variedades só produz bem se tiver outras por perto que floresçam na mesma época e que possam fornecer o pólen para permitir a fecundação e a frutificação.
Assim é melhor plantar pelo menos duas variedades no quintal, com o cuidado de sejam compatíveis. É o caso das variedades "Burlat” e "Stark Hardy Giant”, que se polinizam mutuamente.
A primeira é mais conhecida em Portugal, mas é sensível ao rachamento em caso de chuva excessiva. Já a segunda é mais resistente e considerada de muito bom sabor.
Também é preciso ter em conta que a polinização é entomófila o que requer a presença de abelhas ou outros insetos polinizadores, e muitas viagens entre cada flor.
Quando o espaço disponível para a plantação é reduzido e só podemos plantar uma árvore, então há que optar por uma das poucas variedades autoférteis, ou seja que se poliniza a ela própria. É o caso da cerejeira "Sunburst”.
A cerejeira também tem algumas exigências em solo mas não muitas, pois até é das árvores de fruto menos exigente em água. Pelo contrário o principal problema é o excesso de água no solo e subsolo.
Os melhores solos são os profundos, frescos mas com boa drenagem. Mas também se adapta a solos pedregosos desde que tenha rega.
Para uma melhor adaptação ao solo e à disponibilidade de água é bom escolher também o melhor porta-enxerto, pois a variedade de cerejeira para manter as características dessa variedade deve ser enxertada e não reproduzida por semente.
Os porta-enxertos conferem diferente vigor à árvore, sendo o índice de vigor (IV) a percentagem do crescimento em comparação com a cerejeira propagada por semente.
O maior vigor origina árvores menos dependentes da rega e adubação mas mais lentas a entrar em produção, o que no caso pode ser problemático atendendo à lenta entrada em produção da cerejeira.
Por outro lado um vigor muito fraco torna as árvores mais dependentes e não se aconselha para a produção biológica.
Há diferentes porta-enxertos, sendo os principais os seguintes, por ordem de vigor:
Os dois últimos são de evitar, pois tornam a árvores muito dependente da rega e da adubação, e também mais sensível a pragas como o pulgão negro da cerejeira.
Onde houver problema de ratos deve evitar-se o "Santa Luzia”. Já o "Colt” é mais resistente a esta praga de difícil controlo e também tolera algum excesso de água no solo, sendo provavelmente o mais indicado para a maior parte dos casos.
Para quem tem os quintais mais distantes das zonas mais aptas à cultura da cereja, restará uma agradável viagem a uma dessas zonas, como as encostas Norte e Nordeste da serra da Gardunha (Alcongosta/Fundão), a margem sul do Douro também em encosta virada a Norte (Resende), ou Trás-os-Montes na transição da "Terra Quente” para a "Terra Fria” nas encostas da serra de Bornes (Alfândega da Fé e Macedo de Cavaleiros).
Se não puderem ir tão longe, então a freguesia do Beco, junto à aldeia histórica de Dornes, será uma opção no concelho de Ferreira do Zêzere.